RUC está com chamada para dossiê sobre Comunicação e Meio Ambiente
Cada vez mais as questões ambientais se impõem como um tema imprescindível para nossa sociedade. A crise ambiental nos obriga a rever nossos modos de agir. Do ponto de vista da Comunicação, a visibilidade dos problemas e das possíveis soluções torna-se cada vez mais necessária para compreendermos a complexidade do nosso tempo e identificarmos o que é preciso fazer nas esferas governamental, empresarial e até individual.
Desde a pandemia de covid-19 e o desmonte de políticas públicas ambientais ocorrido com maior vigor na gestão de Jair Bolsonaro, a imprensa brasileira tem reportado com mais frequência os desafios que comprometem nosso futuro enquanto espécie. Contudo, não é somente o Jornalismo que avançou nessa cobertura: as demais subáreas do campo comunicacional vem incorporando a perspectiva ambiental, a fim de mobilizar seus públicos para entender a insustentabilidade do nosso modelo de desenvolvimento - ou, ao menos, tentar ajustar-se a uma nova realidade de eventos climáticos extremos, escassez de recursos tidos como matérias-primas e, consequentemente, valorização de um comportamento pró-ambiental.
O desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul; o desmatamento da Amazônia em prol da grilagem e do garimpo; a supressão da vegetação nativa em todos os biomas em favor da exportação de commodities; a maior intensidade dos eventos extremos e a vulnerabilização das populações empobrecidas; e os crimes ambientais cometidos por empresas que se dizem sustentáveis são apenas alguns exemplos de acontecimentos ambientais que podemos observar recebendo atenção midiática recentemente. Por outro lado, organizações públicas e privadas têm investido em setores de ESG (sigla em inglês para associar aspectos ambientais, sociais e de governança) para promover mudanças de cultura e se aproximar de uma imagem sustentável. Porém, tais discursos se sustentam na prática?
A comunicação ambiental é abrangente e pode reunir diferentes interesses, muitos deles oportunistas. Há uma série de dilemas no fazer dessa comunicação no cotidiano de práticas hegemônicas, atreladas à uma visão utilitarista da natureza (Del Vecchio-Lima et al., 2014). Entretanto, é pertinente que façamos a distinção do que é greenwashing (uma tentativa de se vestir de verde apenas para surfar na onda do momento) com a genuína preocupação ambiental se faz presente nas mensagens produzidas por relações públicas, publicitários, jornalistas e demais profissionais da Comunicação.
Como a perspectiva ambiental vem sendo reproduzida nos conteúdos midiáticos? Quais os obstáculos se impõem para a transversalidade de temas ambientais na comunicação organizacional? Quais significados e sentidos são explorados nas imagens e textos que se propõem a comunicar problemáticas ambientais? Como a comunicação ambiental se articula com engajamento e advocacy? Quem faz essa comunicação no Brasil? Há especificidades entre os subcampos da Comunicação quando falamos de meio ambiente? Essas são apenas algumas perguntas que poderão ser respondidas neste dossiê.
A partir disso, a Revista Uninter de Comunicação (RUC), publicação do grupo de pesquisa Comunicação, Tecnologia e Sociedade em vigência desde 2013, convida pesquisadores e profissionais da área de Comunicação a submeterem artigos para o dossiê “De que maneira o meio ambiente está sendo incorporado pelo campo da Comunicação?” O objetivo deste dossiê, organizado pelas pesquisadoras Eloisa Beling Loose e Eliege Fante, é reunir trabalhos teóricos e empíricos realizados a partir dos processos e produtos comunicacionais a respeito de temáticas que envolvam as relações sociedade e natureza, contribuindo para a qualificação do nosso campo e o entendimento do papel dos comunicadores no enfrentamento do colapso ambiental em curso.
A revista é destinada a publicações de pesquisadores de Comunicação e áreas afins, sendo que um dos autores deve ter titulação mínima de mestre. Os artigos submetidos devem seguir as normas da RUC e ser enviados pela plataforma da revista até o dia 15 de setembro. A publicação do dossiê está prevista para novembro de 2024. Além dos artigos para o dossiê, a revista também receberá produções para fluxo contínuo. Os artigos na RUC são publicados no sistema Ahead of Print (AOP), com inclusão antecipada das produções após aprovação em avaliação double blind review.
Organização
Eloisa Beling Loose – Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR, doutora em Comunicação pela UFRGS, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS, e jornalista pela UFSM. Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq e o Projeto Multirrisco (UFRN/UFABC/Cemaden). É professora do Departamento de Comunicação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.
Eliege Fante – Doutora e mestra em Comunicação e Informação pela UFRGS, é jornalista diplomada pela Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo. Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq e participa do projeto de extensão Observatório de Jornalismo Ambiental. Presta Assessoria de Comunicação a Rede de pesquisa científica Campos Sulinos (UFRGS/CNPq).
Referência:
DEL VECCHIO-LIMA, Myrian; LOOSE, Eloisa; SCHNEIDER, Thaís; NOGAROLLI, Aparecida; LAMBACH, Higor. Os dilemas da Comunicação Ambiental no contexto do desenvolvimento hegemônico. COMUNICAÇÃO, MÍDIA E CONSUMO, v. 11, p. 203-221, 2014.