APRESENTAÇÃO: UM DOSSIÊ PARA RESSALTAR A NECESSIDADE COTIDIANA DA COMUNICAÇÃO AMBIENTAL
Resumo
A temperatura média global em 2024 está prestes a ultrapassar até mesmo a de 2023, o ano mais quente já registrado, igual a 1,5 graus Celsius, a mais alta desde o início das medições no século XIX. Da mesma forma, os recordes do ano passado de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera tendem a ser quebrados nesse ano.
Se está cada vez mais difícil aos negacionistas das mudanças climáticas refutarem tanto os resultados das pesquisas científicas como os eventos extremos vivenciados no dia a dia em todas as partes da Terra, o desafio de comunicar a dimensão ambiental se agiganta. A crise ambiental nos obriga a repensar os modos de viver e a optar por outros mais sustentáveis de fato. Também se torna redobrada a atenção com as soluções imediatistas e imprescindível monitorar o desmonte das políticas públicas ambientais e outras relacionadas, como nas áreas de direitos humanos, da saúde e da educação. Nessa esteira, a abordagem ambiental amplia-se e qualifica-se a fim de mobilizar os públicos a reagir ante à insustentabilidade do nosso modelo de desenvolvimento, a tentar ajustar-se a uma nova realidade de eventos climáticos extremos, de escassez de recursos da natureza tidos como matérias-primas e, consequentemente, a urgência de um comportamento mais lúcido.
O debate ambiental no campo da Comunicação Social se fortalece baseado nos resultados da atuação do movimento ecologista, nos anos 1960/1970, e consolida-se nos anos 1990, impulsionado pela realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, em 1992. Nessas décadas iniciais era a comunicação jornalística que denunciava a degradação e a devastação da natureza para promover o debate na esfera pública.
É em razão de tais circunstâncias que as pesquisas científicas na área de jornalismo ambiental começam a ser desenhadas. Nacionalmente temos como referência na área a professora Ilza Girardi, coordenadora do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (UFRGS/CNPq), que há mais de vinte anos trabalha nessa perspectiva. Atenta aos processos de ambientalização da sociedade nos anos 2000, Girardi foi responsável por criar a primeira disciplina de Jornalismo Ambiental em uma Faculdade de Comunicação.
Com o aumento da visibilidade na grande imprensa das múltiplas crises ambientais que nos atravessam, as ações para seu enfrentamento ganharam espaço na comunicação de organizações e transformaram-se em valor para as marcas. Isso acarretou a necessidade de separar a comunicação atenta à proteção ambiental daquela que produz mensagens sobre o meio ambiente sem se preocupar cuidadosamente com a realidade, o que denominamos greenwashing ou maquiagem verde.
Os estudos que integram a área da comunicação ambiental são heterogêneos. A subárea do Jornalismo possui uma sistematização mais consolidada, mas há lacunas nas inter-relações com outros modos de se comunicar, como o publicitário. Mesmo quando se abre oportunidade de reunir os olhares comunicacionais, como neste dossiê, observa-se a prevalência das pesquisas em jornalismo.
A divulgação da edição temática que se apresenta ocorreu logo após a eclosão do desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul, um acontecimento que provocou demais a comunicação social ante a dimensão e tempo alargado do período emergencial. Centrado nesse desastre, Michele de Fanfa, Camilo Silva Costa e Luiz Caldeira Brant de Tolentino Neto exploraram o contexto da desinformação e da negação climática, tema recorrente nas submissões recebidas para esta edição. Autores evidenciaram o papel da divulgação científica como mais um aliado nessa luta.
As queimadas na Amazônia também foram noticiadas no período, assim como o colossal problema da apropriação de terras públicas pela grilagem, o garimpo e a exportação de commodities. Lucas Rodrigues Félix e Luciana Miranda Costa discutiram o modo do Jornal Nacional inserir no debate público a importância da preservação do meio ambiente, que ainda prioriza os detentores do poder como fontes de informação.
Em um contexto que clama por rupturas no nosso modelo de desenvolvimento, negar a emergência das múltiplas crises ambientais é mais um componente para confundir a opinião pública e seguir alimentando o sistema estabelecido. Com o aumento da desinformação, discutir a integridade da informação climática, como faz Krystal Urbano ao se debruçar sobre os desafios e as oportunidades enfrentados pelo Brasil durante sua presidência no G20 em 2024, é uma das maneiras de refletir sobre as conexões entre comunicação e governança.
Por fim, o artigo de Vanesa Romansin e Claudia Herte de Moraes centrou-se no estudo das fontes a partir da cobertura jornalística de reportagens especiais sobre meio ambiente publicadas pelo Correio do Povo entre 2016 e 2023. Logo, reforça-se, mais uma vez, a discussão comunicacional feita desde o jornalismo.
Os trabalhos reunidos aqui buscam valorizar os esforços de jovens investigadores que se aventuram pelas interfaces da Comunicação e do Meio Ambiente, além de contemplar a dedicação daqueles mais experientes. Sendo essa uma Revista de caráter multidisciplinar e que busca estimular a formação de pesquisadores, a nossa motivação foi dar visibilidade aos enfoques ambientais que estão sendo trabalhados desde a Comunicação, contribuindo com a expansão e consolidação de uma área cada vez mais presente no nosso dia a dia.
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