Os etnoconhecimentos e as práticas de agricultores faxinalenses como fonte para elaboração de cartilhas e mapas etnopedológicos
DOI:
https://doi.org/10.22292/mas.v11i21.1015Resumo
A etnopedologia não se caracteriza como uma disciplina, mas como um conjunto de conhecimentos tecnocientíficos e patrimoniais que o agricultor utiliza para classificar e manejar a qualidade de suas terras. No caso específico dos faxinais no estado do Paraná, as paisagens agrícolas dessas comunidades tradicionais trazem as marcas desses saberes historicamente arraigados ao território. A avaliação da qualidade das terras, a partir de indicadores etnopedológicos em faxinais, permite entender quais são os atributos que o agricultor usa para diferenciar solos de baixa, média e alta qualidade produtiva, sendo esse um saber concebido em função das experiências produtivas com a geobiodiversidade da paisagem-território. A principal metodologia utilizada nesta pesquisa foi o diagnóstico participativo com os sujeitos locais, através de questionários semiestruturados; com eles, obteviveram-se os elementos para confecção dos principais produtos deste estudo. Os resultados apontam três classes vernaculares para os dois faxinais estudados: terra branca e terra preta de boa qualidade, e terra seca de baixa qualidade para os cultivos locais. Assim, propor mapas de classificação da qualidade das terras, levando-se em consideração o patrimônio socioecológico dessas comunidades tradicionais, apresenta-se como um desafio quando converge com as diferenças entre os sistemas vernacular e científico de classificação dos solos.
Palavras-chave: paisagem agrícola; saberes tradicionais; metodologia participativa; agroecossistema.
Abstract
Ethnopedology is not portrayed as a discipline, but as a set of technical, scientific, and heritage knowledge that farmers use to classify and manage the qualities of their lands. In the specific case of “faxinais” in the state of Paraná, the agricultural landscapes of these traditional communities bring the marks of this knowledge historically rooted in the territory. The evaluation of land quality, based on ethnopedological indicators in “faxinais”, allows us to understand which are the attributes that the farmer uses to differentiate low, medium, and high-productive quality soils, with this knowledge being conceived according to the productive experiences with the geobiodiversity of the landscape-territory. The main methodology used in this research was the participatory diagnosis with the local subjects, through semi-structured questionnaires; with them, the elements for making the main products of this study were obtained. The results point to three vernacular classes for the two “faxinais” studied: good quality white land and black land, and low-quality dry land for local crops. Thus, proposing maps for classifying land quality, considering the socio-ecological heritage of these traditional communities, presents itself as a challenge when it converges with the differences between the vernacular and scientific systems of soil classification.
Keywords: agricultural landscape; traditional knowledge; participatory methodology; agroecosystem.
Resumen
La etnología no se caracteriza como una metodología, sino como un conjunto de conocimientos tecnocientíficos y patrimoniales que el agricultor utiliza para clasificar y manejar la calidad de sus tierras. En el caso específico de los “faxinais” en el estado de Paraná, los paisajes agrícolas de esas comunidades tradicionales tienen las marcas de esos saberes históricamente arraigados al territorio. La evaluación de la calidad de las tierras, a partir de indicadores etnopedológicos en “faxinais”, permite entender cuáles son los atributos que el agricultor usa para diferenciar suelos de baja, mediana y alta calidad productiva, pues este es un saber concebido en función de las experiencias productivas con la geobiodiversidad del paisaje-territorio. La principal metodología utilizada en esta investigación fue el diagnóstico participativo con sujetos del lugar, por medio de cuestionarios semiestructurados; con ello, se obtuvieron los elementos para la confección de los dos productos de ese estudio. Los resultados apuntan tres clases tradicionales para los dos “faxinais” estudiados: tierra blanca y tierra negra de buena calidad, y tierra seca de baja calidad para los cultivos locales. De esa manera, proponer mapas de clasificación de la calidad de las tierras, tomándose en consideración el patrimonio socioecológico de esas comunidades tradicionales, se presenta como un reto cuando converge con las diferencias entre el sistema tradicional y el científico de clasificación de los suelos.
Palabras-clave: paisaje agrícola; saberes tradicionales; metodología participativa; agroecosistema
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